Estamos mais perto da cura do câncer?

Cancer

Milton Wright parecia finalmente ter sua vida encaminhada. Após o que pareciam intermináveis interrupções em sua educação, sua carreira no futebol americano e seus planos para se juntar ao exército aos 20 anos encontraram o seu caminho. Ele deslanchou a carreira de modelo e apareceu em propagandas de artigos esportivos. Ele esqueceu tudo, mas jamais esqueceu que teve câncer. "Eu finalmente senti que as coisas estavam indo na direção que eu queria".

Cinco anos e 2 meses em sua segunda remissão de leucemia linfoblástica aguda (LLA), Wright escorregou na calçada e ouvi suas costelas quebrar. Caminhou uns poucos quarteirões até o Hospital infantil da cidade. Ele morava nas proximidades, desde que foi diagnosticado com leucemia pela primeira vez. Lá, ele passou vários anos em seus dois períodos de tratamento – um aos 8 e outro aos 15 anos. Depois de examinar as costelas e colher sangue, a enfermeira de emergência disse que seria acompanhado pelos médicos hematologistas. "Foi quando eu relembrei tudo," ele refere. "As costelas quebradas, as amostras de sangue. Eles acham que a doença voltou.". Wright sabia o que acontece com crianças que têm leucemia pela terceira vez. "Nenhum deles sobrevive. É quando te dizem que você tem mais 6 meses. Eu percebi que eu iria morrer em breve." Sua médica e professora assistente da Pediatria de uma Universidade conhecida, confirmou que a leucemia estava de volta, mas não falou que tinha mais 6 meses. Como pesquisadora em um novo ensaio clínico, ela sugeriu a Wright ser a segunda pessoa a participar. A primeira pessoa não tinha mais sinais de leucemia apenas 9 dias após iniciar o tratamento. O estudo testa um tipo de imunoterapia, uma nova forma de tratamento que estimula o sistema imunológico para lutar contra o câncer. Alguns médicos e pesquisadores chamam de "caminho para a cura". "Nós sobrecarregamos o sistema imunológico", diz ela. "Isso traz uma dimensão totalmente nova ao atacar uma célula cancerosa."

Algumas células cancerosas têm traços em comum com células saudáveis, que fazem com que o sistema imunológico as detecte como um problema. O sistema imunológico de Wright aprendeu a identificá-las. Por meio desse estudo clínico, pesquisadores mudaram os genes nas células T, células brancas do sangue que defendem o corpo de infecções e outros invasores – e reconhecem e atacam a leucemia. Depois que os pesquisadores modificaram as células de Wright no laboratório, foram devolvidas a seu corpo por via venosa. Todos esperavam que ele tivesse febre, um sinal que as células T estão trabalhando. Se não apresentar a febre, talvez tenha que eliminar as células T com uma droga diferente e terminar com o tratamento do câncer. Duas semanas depois de receber as novas células, ele apresentou febre que o levou para a UTI. "Não estava preparado para isso. Perguntei se poderíamos dar mais um ou dois dias." Dois dias depois, a febre cedeu. Alguns dias depois, quando ele estava bem o suficiente para uma punção, o câncer tinha desaparecido. Um ano depois, ainda é difícil para Wright acreditar. "Quando digo que estou curado, não sinto 100% de certeza. Mas, de acordo com meu exame de sangue, eles não conseguem encontrar uma única célula cancerosa no meu corpo." Wright também realizou um transplante de medula óssea - outra tentativa contra a recidiva da doença. Sua recuperação parece quase um milagre, mas dezenas de pessoas com este tipo de leucemia estão agora em remissão após tratamentos semelhantes.

"Não são apenas alguns pacientes. É um número crescente em vários centros,", diz Alberto Manuel J. Brentjens, oncologista do Memorial Sloan Kettering Cancer Center em Nova York. Ele passou 20 anos pesquisando formas de obter células do sistema imunológico para combater o câncer. "O que frequentemente mostra que você não está olhando para algo num paciente só ou um golpe de sorte." Desde 2009, pesquisadores do Sloan-Kettering, da Universidade da Pensilvânia, e o Instituto Nacional do Câncer Americano já testaram este tratamento em cerca de 100 pessoas com LLA. Mais de 70 entraram em remissão completa. Dezenas de institutos em todo o mundo ainda estão testando formas deste novo tratamento. "Esta é uma doença muito, muito ruim. A sobrevida global em 3 anos após recidiva é inferior a 10%,"diz Brentjens. "A maioria dos pacientes que acompanhamos por 6 meses após a terapia com células T estão ou ultrapassaram a expectativa de sobrevida esperada." Os pesquisadores também estão testando como as células T modificadas funcionam em pessoas com outros tipos de leucemia, linfoma e mieloma. "A questão é: podemos expandir essa tecnologia para os tumores mais comuns, como câncer de cólon, câncer de ovário e câncer de mama?" diz Brentjens. "Eu não sei. Mas, acho que sim."

Testando o Freio

Em outra forma de imunoterapia, pesquisadores tentam soltar o "freio" do sistema imunológico. O câncer se forma, em parte, porque o sistema imunológico não ataca tudo que cruza seu caminho. Sem eles, o corpo estaria em um estado constante de febre, erupção cutânea ou outra resposta imune. Os pesquisadores estão investigando como soltar os freios por um tempo curto para desencadear o ataque do sistema imunológico às células cancerosas sem atacar o resto do corpo, menciona Schuchter. "O melanoma foi o garoto-propaganda para este tipo de imunoterapia," diz. Este tipo de tratamento está sendo promissor para câncer de pulmão, bexiga e rins. O risco, porém, é que o sistema imunológico possa atacar as células normais. Isso pode levar a problemas como colite, alterações no intestino, hepatite, erupções cutâneas graves e inflamação da glândula tiroide e pituitária. "Esses são realmente efeitos colaterais importantes, que podem ser tratados", diz Schuchter. Pesquisadores estão fazendo e testando outras imunoterapias destinadas a diferentes fases e estágios do câncer. Alguns pacientes com melanoma avançado entram em remissão completa após o tratamento com medicamentos, como o ipilimumab, que liberam os freios do sistema imunológico.

Quando o empreiteiro Thomas Sasura foi diagnosticado com melanoma aos 55 anos, no final de 2010, o câncer estava disseminado para seus pulmões, fígado e cérebro. Em pouco tempo, ele tinha protuberâncias nas costas e debaixo do braço. Antes da sua última químio, seu médico ainda podia sentir alguns dos nódulos em seu corpo. "Foi quando ele me apresentou o ipilimumab," diz Sasura. O médico nunca tinha prescrito a droga e avisou que ele não tinha ideia como isso poderia afetar Sasura. Mas, ele não tinha nada a perder e, três semanas após sua primeira sessão de 90 minutos de infusão, todos os nódulos haviam desaparecido. "Nem acreditei. Eles disseram que normalmente leva duas ou três sessões para acontecer,". Sasura terminou o tratamento de quatro infusões ao longo de 12 semanas e desde então se encontra em remissão. Os exames mostram que o câncer ainda está no seu corpo, mas ele não cresce mais e até diminuiu de tamanho. "Nem todos os pacientes respondem, mas em alguns os tumores desaparecem, o que é bastante incomum em melanoma," diz Schuchter. "Temos pacientes que tiveram doença metastática e que agora estão no quarto ano sem qualquer evidência de melanoma. Estou começando a usar as palavras 'possivelmente curado'.". Os pesquisadores esperam por resultados semelhantes com outros tipos de câncer. Ensaios clínicos atuais com ipilimumab incluem pacientes com câncer de mama, pulmão, colo do útero, próstata, cabeça e pescoço, pâncreas, rins e sangue. O FDA aprovou duas novas drogas, pembrolizumab e nivolumab. Outras ainda aguardam aprovação.

De volta ao futuro

Um ano após a imunoterapia, pacientes como Sasura e Wright já não pensam em como eles passarão seus últimos dias, eles continuaram com suas vidas. Sasura está de volta ao trabalho de remodelação de cozinhas e banheiros. Wright tem a luz verde para retornar à academia meses antes da maioria dos transplantados e quer voltar a ser modelo. "Sinto que este tratamento está funcionado," diz Wright. "Sinto que vou conseguir acabar com isto."